O crescimento do nacionalismo na Europa está deixando muita gente nervosa. Há quem diga que as próximas eleições para o Parlamento europeu mostrarão milhões de pessoas que não acreditam na União Europeia e que querem voltar a ter a sua “autodeterminação” e a sua moeda própria. “O Parlamento europeu está em vias de ser capturado pela direita populista”, escreve alarmado o New York Times no artigo “Estará o fascismo de volta à Europa?”
 
 Antes eram só os ingleses, agora são os franceses, os holandeses, os gregos, os húngaros e mais alguns outros que parece não quererem viver sob este sistema que dissolve as soberanias nacionais de povos com séculos de história, toma decisões sem os cidadãos se pronunciarem, impõe uma austeridade que destrói economias, cria milhares de pobres e promove uma tolerância considerada excessiva em relação à imigração, especialmente de muçulmanos.
 
 Convém ressalvar que nós, portugueses e brasileiros, não percebemos muito bem o alarme de muitos europeus em relação ao “excesso de imigrantes”. Os portugueses não se preocupam muito com isso porque sempre conviveram com os mais variados povos no mundo, nunca tiveram muitos imigrantes e os quem têm são relativamente bem integrados. Mas, se para nós a imigração não é um problema (pelo contrário) já o é para a Rússia, para a Grã-Bretanha, para a Itália ou para a França.
 
 “Esta não é a Europa que nos prometeram”, ouço eu dizer a cada instante nas ruas e na imprensa. Julgo que não é apenas a crise econômica que está na origem da atração que os partidos nacionalistas exercem sobre as populações europeias. Se assim fosse, em países onde a austeridade não tem sido aplicada, tais partidos não teriam expressão. A realidade mostra-nos que não é assim.
 
 Decepção e perda de identidade nacional
 
 A insistência de Bruxelas em medidas de austeridade, o pouco respeito com que a Alemanha olha para os países da periferia europeia, impondo-lhes restritas regras financeiras que têm levado ao aumento da pobreza e à destruição das classes médias, tudo deixa os povos decepcionados e revoltados. A perda de soberania, do poder de cada país se poder governar conforme acha melhor e não por imposição de credores e funcionários de Bruxelas, pode ser uma das razões que faz nascer partidos nacionalistas, também chamados “partidos identitários”.
 
 A globalização criou poderes que se sobrepõem à soberania política dos países e isso não deixa de gerar uma reação.
 
 Na Hungria, muitos eleitores abandonaram os partidos tradicionais de direita e passaram a apoiar o partido Jobbik por estarem fartos da UE e dos governos em geral. A insegurança, a precariedade ou a impotência são o caldo de cultura da raiva e da decepção.
 
 O fracasso do multiculturalismo
 
 Os imigrantes já são uma parte importante das populações europeias. Em grandes cidades como Paris, Londres ou Berlim até parece que os autóctones estão em minoria. A Itália debate-se com novas e novas ondas de ilegais vindos do Oriente Médio. Muitos políticos já reconheceram que o multiculturalismo fracassou porque algumas comunidades imigrantes, especialmente as de religião muçulmana, não se integram nos países de acolhimento, preferindo viver segundo as normas e as leis do seu país de origem. Algumas até pretendem impor aos europeus a sua cultura e religião.
 
 Muitos nacionalistas acusam os políticos de implementarem acordos de imigração antidemocráticos, sem qualquer consulta popular. A Europa tem medo de desaparecer, tem medo de perder os seus valores e de a sua civilização soçobrar perante a força de milhões de muçulmanos que, entrando na UE e utilizando os sistemas europeus de previdência social, exigem mais e mais direitos.
 
 A tensão entre os naturais e os imigrantes, resultado do fracasso da integração dos não-europeus nos países onde estes últimos atingem percentagens elevadas da população, é um dos factores que leva ao crescimento dos partidos de extrema-direita.
 
 A subversão da democracia
 
 Distraídos com o crescimento do nacionalismo, esquecemo-nos de outro perigo: o nascimento de regimes ditatoriais apoiados nas tecnologias.
 
 Parece que, ocupados em defender a democracia, daqui a pouco já nada teremos para defender.
 
 O terrorismo, a crise de segurança mundial, está transformando as democracias em ditaduras devido às exceções abertas, que estão a destruir os valores ocidentais. Esta posição é defendida pela acadêmica portuguesa Irene Pimentel, mas muitos partilham a sua opinião.
 
 Segundo ela, existe o perigo de as excessivas medidas de exceção estarem a destruir a democracia.
 
 As democracias estabelecem regimes de exceção para determinadas categorias de pessoas, criando
uma nova legitimidade e uma nova lei, completamente contrária à lei da democracia. Dois exemplos são a prisão de Guantanamo e o Patriot Act norte-americano, mas há muitos outros.
 
 “Quando estamos a fazer exceções em democracia, estamos a dar cabo dela”, escreve a acadêmica.
 
 Estamos, pois perante a possibilidade de virmos a ter novas ditaduras, diferentes das que existiram até hoje, apoiadas nas enormes capacidades tecnológicas. A famosa luta contra o terrorismo gera cada vez mais tecnologias de “segurança”.
 
 Mas as tecnologias vão-nos tirar a liberdade, porque todos os nossos passos tenderão a ser controlados, começando na “monitorização” das redes sociais, passando por smarphones e terminando em câmaras de vigilância. Edward Snowden já nos mostrou que isso é possível, ou até que já começou a ser feito.
 
 Outra forma de passar silenciosamente da democracia para ditaduras é controlar a mídia (tal como já é praticado). Os jornalistas são dependentes dos empregadores, ganham pouco e podem perder o emprego a qualquer momento. Nestas condições, já nem é preciso haver censura, porque os próprios jornalistas se encarregam de seguir o “pensamento correto”.
 
 Temos liberdade de expressão mas não temos imprensa livre. Compramos os gadgets mais modernos sem pensarmos que somos controlados através deles. Não falta muito para começarmos todos a pensar da forma que alguns querem.