sábado, 1 de fevereiro de 2014

Obra prima nas mãos do Escultor




Wallace Sousa

Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é. 1 João 3:2

Eu já não sou mais o mesmo de antes…

Já faz algum tempo que reflito sobre esse versículo, e sobre o que se pode abstrair dele. Certa vez, ouvi uma rápida palavra de um pastor que me deu a deixa para discorrer sobre o que falarei a seguir. Quando ele fez suas primeiras considerações, eu disse a mim mesmo: “puxa, vai ser uma mensagem de arrebentar”. De fato, arrebentou com minhas expectativas, porque ele sequer arranhou a superfície do que poderia quando tratou da questão. Uma pena. Espero não cometer o mesmo tipo de atrocidade com meus leitores.

Esse verso encerra lições profundas. Profundas e impactantes. Impactantes e reveladoras. Verdades transformadoras, se é que me entende, e é sobre isso que pretendo falar e que, espero, tragam consolo, virtude e esperança para sua alma. Será muito ousado, talvez até arrogante de minha parte, mas vou me arriscar dizendo que, para alguns, a leitura desse post significará um marco em suas vidas, um divisor de águas, e uma transformação terá início, e jamais serão os mesmos de antes.

Mas, afinal, que lições são essas, tão importantes que merecem tanto sua atenção? Em primeiro lugar, o tempo. No verso, estão contemplados o passado, o presente e o futuro. Onde? Aqui ó:

    Presente = agora somos filhos de Deus;
    Futuro = o que havemos de ser;
    Passado = implícito no “agora somos”, logo, “antes, não éramos”.

Refletindo sobre esses versos, somos levados, inconsciente e automaticamente a uma das grandes mazelas do gênero humano: a comparação. Mulheres que o digam, que gostam (gostam?) de se compararem umas às outras desde que me entendo por gente, e olha que nasci no século XX, no longínquo Segundo Milênio. Você já viu mulher comparando-se com outra? É simples, geralmente só tem duas opções disponíveis: ou ela quer  m-o-r-r-e-r ou quer  m-a-t-a-r a rival. Tão bucólico isso…

Voltando… a comparação nos leva a sentimentos conflitantes e contraditórios porque, quando olhamos para o futuro, sentimos tristeza ao descobrirmos que “ainda não somos o que deveríamos ser”. Ou seja, precisamos evoluir, crescer, amadurecer, etc. É constrangedor você admitir que ainda não é perfeito, embora todo mundo saiba disso. Você saber que ainda vai errar muito, que ainda faz coisas erradas, algumas vezes querendo, de fato, errar (pecar), sabendo que é errado (pecado) aquilo que quer fazer. Isso é algo… vergonhoso, para tentar resumir em uma palavra algo tão complexo.

Por outro lado, quando você olha para trás, há um certo alívio, pois descobre que já “não é mais o que era antes”. Deus iniciou, em você, um processo de transformação, em certos aspectos, radical. Pessoas que o conheciam há tempos agora dizem que já não o conhecem direito, que você mudou… Às vezes, nem entendem ou concordam com as mudanças, mas observam que algo ocorreu, e que você, de fato, é outra pessoa. Isso nos alivia, um pouco, a consciência ferida pelos erros que não deveríamos, mais, cometer.

Entretanto, essa visão, ainda que válida, não é a mais correta para balizar a comparação daquilo que somos com o que éramos e com o que seríamos. Essa visão é muito humana e material, e não corresponde àquilo que devemos, de fato, verificar. Qual seria, então a forma correta de ver nossa mudança em curso, nosso contínuo processo de transformação? A visão que equilibra os fatos humanos com o fator espiritual. E como seria isso?

Não é difícil, observe:

 Ao olharmos o passado, temos que reconhecer que, se mudamos para melhor, esse mérito não é nosso, é de Deus que, por Seu Espírito, nos fez filhos do Reino do seu amor, ou seja, não há motivos para nos gloriarmos por sermos pessoas melhores do que fomos, um dia; ao vislumbrarmos o futuro, não devemos ter medo de não “chegarmos lá”, ou seja, de não conseguirmos vir a ser aquilo que Deus projetou para nós. Da mesma forma que Ele nos vem transformando, adequando à Sua vontade, Ele vai concluir Sua obra em nós. É só confiar, e descansar.


Essa frase de Michelângelo é singular, e ilustra aquilo que penso que Deus vê em nós:

    A extraordinária sensibilidade de Michelangelo à pedra fazia-o ver a estátua como se ela já estivesse contida nela: “Eu só retiro as sobras, a estátua já está lá”.

Eu penso que é assim que Deus nos vê: como pedras em seu estado bruto, que precisam ser trabalhadas, quebradas, moldadas, para que a beleza que existe, escondida, em seu interior, aflore, cresça, desabroche.

Escultura de Michelangelo "Rei Davi"

Existe, dentro de nós, aquilo que só Deus vê, tal como Michelângelo, que via, nos obtusos blocos de pedra, suas obras-primas escondidas em seu recôndito mais interior. Obras-primas que precisavam ser descascadas de suas impurezas impregnadas.
 
E não é assim que Deus faz conosco? Não vai Ele nos “descascando” daquilo que não O agrada, daquilo que não O exalta?

Sim, somos a pedra bruta nas Mãos do grande Escultor do Universo, e Ele nos cinzela, “desce o malho sem dó”, não sem propósito, não sem um Plano em mente. É na ponta do cinzel de Deus que vai tomando forma o modelo que Ele quer que sejamos.

É nos “ais” e “uis” que somos, literalmente, talhados à imagem e semelhança do Senhor, pelo Seu Espírito. É na fornalha da aflição onde nos derretemos, para sermos lançados na Bigorna de Deus, e amassados, moldados conforme Sua vontade.

Mas, por que tudo isso, por que tanta dor e sofrimento? Por que não nos deixar ser, como antes, aquele bloco de pedra bruta lá do começo? Porque o Senhor nos quer à sua Imagem e Semelhança. Somos obra de Suas mãos, e a obra que ele começou, Ele vai concluir em nós.
 
Se o cinzel ou o martelo de Deus estão se abatendo impiedosamente contra você, suporte mais um pouco. Logo, Ele vai terminar e mostrar o resultado de Sua arte ao mundo.

Wallace Sousa escreve o Desafiando Limites e colabora com o Tenda na Rocha.
 

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